QI GONG (CHI KUNG)

PRÁTICAS DAS ARTES MARCIAIS

QI GONG (CHI KUNG)

O que é e qual o significado do Qi Gong, para que serve sua prática e o que a ciência ocidental diz sobre as práticas corporais tradicionais chinesas.

Primeira parte: O conceito de Qi, o que é a prática do Qi Gong e sua filosofia.

No pensamento chinês, todas as manifestações de vida possuem um princípio em comum: a energia que rege o universo. QI (“chi” é como geralmente vemos escrito, mas “qi” é a grafia correta em piyin, e a pronúncia é “tchi”) significa ENERGIA, é uma força que não podemos ver, mas ela existe.

Uma antiga corrente filosófica da China chamada Hetu Loshu diz que a força do Universo gira no sentido anti-horário, gerando a energia YANG. A Terra, por sua vez, gira no sentido horário e dá origem a energia YIN. Toda matéria existente no planeta sofre a influência destas duas ENERGIAS opostas que têm relação com o surgimento das oposições como luz e escuridão, duro e mole, alegria e tristeza, rígido e flexível, homem e mulher, etc. Num mesmo ser vivo encontra-se as duas energias se manifestando. Por exemplo, o dia é constituído de um período de luz e um período de escuridão, o tempo é constituído por períodos quentes e períodos frios, as flores nascem e desabrocham, mas depois murcham e secam para depois renascerem novamente, na vida temos momentos tristes e momentos felizes,... para uma coisa existir outra coisa oposta também precisa existir. Para podermos ter a satisfação de tomarmos um copo de água precisamos ter a sensação incômoda da sede!

Símbolo do Yin-Yang

O princípio de Yin-Yang é aplicável a todos os seres e ao universo, pois a vida está sempre em alternância cíclica – os seres nascem, crescem, decaem, morrem. É o movimento da vida. É a natural alternância entre as forças opostas que gera o equilíbrio. Quando uma das forças predomina, isso acaba gerando uma estagnação do curso natural das coisas – o desequilíbrio.

A medicina chinesa teve suas origens há aproximadamente 2600 a.C. através do Imperador Amarelo. O pensamento que guia a medicina tradicional chinesa tem suas raízes na filosofia taoísta, onde uma de suas características é a relação que faz entre o macrocosmo (universo) com o microcosmo (corpo humano), por isso as práticas que se baseiam neste pensamento visam a integração do ser humano com a natureza. O ser humano é considerado a ponte de ligação entre o céu e a terra.

O QI GONG é uma prática corporal chinesa muito antiga – há muitas controvérsias quanto a época exata de origem – onde possui como principal objetivo o CULTIVO DO QI, realizando movimentos, posturas, expressões, mentalizações e sons que favoreçam a integração do ser humano com a natureza. Durante a prática se faz necessário o trabalho de todo o conjunto do CORPO - NO SEU SENTIDO AMPLO, considerando sua totalidade, todos os seus aspectos, já que estamos falando na UNIDADE E TOTALIDADE que deve ser o ser humano. E os exercícios suaves buscam acompanhar a natureza. Nós ocidentais temos a cultura de nos exercitarmos de maneira exaustiva para obtermos um corpo mais bonito, magro e definido, além da busca pelo rendimento esportivo em alguns casos; porém esta exaustão que nós levamos o nosso corpo durante várias vezes ao longo de vários anos pode acabar causando desgastes e até lesões por esforços que foram contra a nossa natureza, e ao pararmos de nos exercitar, nossos músculos definidos de maneira exagerada ficam flácidos e caídos, e passamos a engordar mais facilmente, já que não gastamos mais tanta energia para nos mantermos magros.

É importante ressaltar que o qi gong possui duas ramificações: além de ser praticada como exercícios terapêuticos, pode ser praticada junto às artes marciais.

Nas artes marciais, e neste caso se tratando especificamente do kung fu, vemos diversas demonstrações de quebramentos e resistência incríveis com diversas partes (naturalmente vulneráveis) do corpo do praticante, como quebramentos de tijolos com a cabeça ou com a palma da mão, com apenas dois dedos das mãos permanecer se sustentando de ponta-cabeça, resistir à pressão de uma lança na garganta ou abdome, etc. Os monges do templo de Shaolin são grandes exemplos destas habilidades, e o treinamento se resume em basicamente praticar o cultivo do qi e o seu domínio através de muita concentração e meditação para que esta energia se acumule em certo ponto do corpo, fortalecendo-a de maneira extraordinária para suportar esforços inimagináveis e impossíveis para a grande maioria dos seres humanos.

“Shaolin Monks perform qigong”. Fonte: The Baltimore Sun / China Daily

E continua… aguardem!